O Património Genético das Ovelhas Bordaleiras

A origem da ovelha Bordaleira de Entre Douro e Minho é comum à dos ovinos existentes a norte do rio Douro, descendendo dos troncos ibéricos Ovis aries ibérica e Ovis aries ligeriensis que habitaram a Península Ibérica.

A partir de uma foto em exposição no Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, cedida pelo Professor Doutor Manuel Antunes, é possível ver, entre as ovelhas Bordaleiras do rebanho, um carneiro provavelmente originário da Espanha. Era um rebanho grande e com o desaparecimento da referida aldeia em 1971, o que não foi vendido para abate, espalhou-se pela região.

Ao longo dos anos, a criação da  ovelha Bordaleira expandiu para vários outros locais de Portugal, Não havia muita preocupação com a pureza da raça, por isso, os cruzamentos foram acontecendo em função de se aumentar o rendimento da carne ou do leite. 

Nas pesquisas em fontes como o DGAV, a AMIBA e a relatos de pastores e criadores da Bordaleira, desde o Minho até à Serra da Estrela, verificou-se que, a transumância também colaborou e muito, para essa expansão e consequente evolução das características da raça, como a vemos hoje.

Em anos não muito longínquos, praticava-se a transumância das ovelhas que estavam nos vales, subindo para a Serra da Estrela e Montemuro no mês de junho, onde permaneciam até meados de Agosto (Pinto, 1982). Por sua vez, os rebanhos da Serra da Estrela, no início do Inverno e devido à neve, desciam para a planície dirigindo-se para os campos do Mondego, campos de Ourique, campos de Idanha e Douro (Patto, 1989).

Há vários séculos, a principal aptidão a ser explorada era a lã, seguindo-se a fertilização da terra, o leite e a carne. Hoje esta exploração está totalmente invertida, pois a fertilização da terra deixou de ter qualquer expressão devido, sobretudo, à introdução de fertilizantes e ao abandono da terra; no que diz respeito à lã, esta é considerada praticamente como um subproduto na economia da exploração, devido ao seu baixo valor comercial.

Assim, a transumância resume-se nos nossos dias, à subida de alguns rebanhos para a Serra da Estrela. Com o surgir da linha férrea da “Beira Alta”, a vocação leiteira desta ovelha começa a ser explorada ao máximo, devido à possibilidade de transporte; as trocas comerciais começam a implementar-se e a produção de queijo “Serra da Estrela” assume uma maior importância. 

Sendo assim, nas análises feitas em amostras da lã da Bordaleira de Entre Douro e Minho, verificou-se uma grande semelhança à lã produzida pelas ovelhas Bordaleiras da Serra da Estrela, notando-se uma diferença apenas no comprimento das fibras.

Num estudo publicado pela Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias em 2005, “Caracterização genética das raças ovinas Bordaleira de Entre Douro e Minho e Serra da Estrela: DNA nuclear e mitocondrial” encontramos informações importantes sobre as semelhanças e diferenças, bem como, explicações científicas para a caracterização genética das raças mencionadas.

O estudo explica também, o porquê do pêlo das Churras, em algumas Bordaleiras.

“Esta caracterização genética das raças ovinas Serra da Estrela e Bordaleira de Entre Douro e Minho permitiu, assim, constatar uma elevada variabilidade genética, observada dentro da raça e entre raças, a eventual presença, na raça BEDM, de subpopulações, provavelmente correspondentes às suas variedades e uma maior uniformidade, igualmente nesta raça, de mtDNA, sugerindo uma linha mãe bem definida e uma política de cruzamentos não dirigidos ao longo do tempo.

Estes estudos permitirão, pois, avaliar a utilidade das análises baseadas, simultaneamente, na dotação nuclear e mitocondrial para a caracterização da biodiversidade das populações, contribuir para a determinação das relações entre populações, compreender evoluções e variações biológicas, em, prosseguir na manutenção de um recurso biológico insubstituível: as raças pecuárias autóctones.” Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, RPCV (2005) 100 (555-556) 175-180

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Luciana Castelli

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